Relato de caso - Intoxicação por chumbo em um cão da raça Basset Hound, que não apresentava sintomas patoguinômonicos (lesão renal e sintomas neurológicos).
Intoxicações por Chumbo é lenta e gradual
O chumbo foi um dos primeiros metais utilizados pelo homem. Existem evidências que apontam o uso desse metal na Ásia Menor 4000 a.C. Por ser usado ha muito tempo e intensamente, a história de intoxicação é longa.
Este metal é amplamente utilizado nas indústrias que produzem cigarro, tinta de cabelo, gasolina e encanamentos de distribuição de água. Quando aquecido a uma temperatura superior a 550-560°C, o chumbo emana vapores tóxicos que, ao entrarem em contato com o ar atmosférico, transformam-se em óxido de chumbo.
O chumbo está presente no meio ambiente naturalmente ou em consequência de sua utilização industrial. A maioria das intoxicações por chumbo é lenta e gradual, devido à sua exposição e acúmulo frequente. Além de ocorrer pela via oral, a intoxicação pode ocorrer, pela via respiratória, devido à inalação de vapores de chumbo.
Características do Chumbo (pb)
O Chumbo (símbolo Pb) é um metal representativo de número atômico igual a 82 e massa atômica ponderada 207,2 u. Por causa das suas características atômicas, inclui-se no grupo dos metais pesados: É bastante nocivo à boa parte dos organismos.
Nas condições ambiente é sólido, maleável e de cor branco azulada se cortado recentemente; caso contrário, quando exposto ao ar, adquire coloração acinzentada. Não é encontrado puro na natureza, mas na forma de compostos minerais, geralmente, sulfurados. Seu potencial de oxidação em relação ao hidrogênio é de + 0,126 V, sendo assim, é relativamente resistente à corrosão, ainda mais porque o óxido formado que recobre o metal serve de proteção e lentifica o processo de corrosão.
O Chumbo (Pb) é um metal pesado que tem alta afinidade pelo grupo sulfídrico lesando principalmente a mitocôndria, em três principais sistemas: neurológico, hematopoiético e renal. Atua também no digestório, cardiovascular, respiratório, imunológico e endócrino. O objetivo do estudo é avaliar danos e respostas ao tratamento com base em resultado de exames e sintomas clínicos apresentados.
Como ocorre a Intoxicação?
A intoxicação por chumbo ocorre quando os animais ingerem acidentalmente produtos que contêm chumbo, por exemplo: baterias, tintas, óleo ou graxa de motores de carros ou máquinas agrícolas, canos de chumbo.
Outra fonte de contaminação é a ingestão de pastagens em áreas próximas a indústrias que poluem ou estradas com muito trânsito de veículos. Os animais mais afetados são os bovinos, principalmente jovens, devido ao seu comportamento curioso e a tendência a lamber ou ingerir objetos estranhos. A intoxicação ocorre também, em equinos, ovinos e caprinos.
Muitas vezes, a intoxicação por chumbo ocorre de maneira desapercebida pelo proprietário, pois os animais desenvolvem manias que seus donos não necessariamente acompanham.
A maioria das intoxicações por chumbo é lenta e gradual, devido à sua exposição e acúmulo frequente.
Além de ocorrer pela via oral, a intoxicação pode ocorrer, pela via respiratória, devido à inalação de vapores de chumbo. Após a absorção, é distribuído pelo sangue, inicialmente nos tecidos moles, principalmente no epitélio tubular dos rins e fígado, onde parte é excretada na bile, outra é armazenada e uma terceira penetra na circulação na forma de fosfato de chumbo.
Histórico e Anamnese
Mickey, M, cão, Basset Hound que aos 2 anos e 10 meses apresentava emese, dor, febre, hiporexia, hematúria, desidratação e já havia tido 3 casos de Cistite.
Pré Diagnóstico, Tratamento e Resultado
Mickey chegou até a clínica veterinária Mundo Animal com histórico de êmese, dor intermitente, febre, hiporexia, hematúria, desidratação e já havia tido 3 casos de Cistite. Foi citado que Mickey passou por cirurgia (laparotomia exploratória) em que foi realizado a retirada do testículo ectopico e esplenectomia. Tratamento realizado: antibiotico e fluidoterapia.
Não houve melhora no quadro clínico. Após o tratamento, sem sucesso, Mickey ainda apresentava caquexia, prostração, anorexia, dor e êmese. O caso de Mickey despertou então o interesse de outros profissionais que por meio da Clínica Mundo Animal solicitaram hemograma, função renal, hepática, ultrassom abdominal (Usa) e Rx simples.
Os exames laboratoriais estavam normais, assim como o USa. No entanto, o Rx apresentou uma estrutura arredondada, de radiopacidade metal na região do abdômen. O exame de dosagem plasmática de metais pesados confirmou, com índice muito elevado (47mg/L), a intoxicação por chumbo. Após a identificação do corpo estranho no abdômen, foi feito cirurgia para extração do material
Fluidoterapia intensa, glicose, complexo B, plasil® e ranitidina por via intravenosa até o relato de alimentação espontânea do Mickey. Antibiotico CEF50® 5 mg/kg/subcutâneo por 10 dias.Após um mês, Mickey apresentou problemas de pele sendo tratado com cetoconazol 10 mg/kg/tópico (20 dias) e cefalexina 30 mg/kg/via oral (10 dias).Após a cirurgia e tratamento, o animal começou a melhorar gradativamente confirmando o diagnóstico.
Mickey apresenta função renal e hemograma dentro dos padrões de normalidade.
Atualmente, o quadro clínico de Mickey é muito bom e as dosagens de chumbo estão caindo a cada exame de forma gradativa, (42mg/L), ainda estando acima do ideal.
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Conclui-se que nem sempre os sintomas correspondem ao quadro clínico real do animal, sendo necessário recorrer aos mais diversos exames somados à experiência profissional.
Recomendações Finais:
O caso de Mickey desperta a classe veterinária para uma atenção maior aos animais, pois Mickey não apresentava sinais clássicos de intoxicação por chumbo, sendo ainda necessário uma atenção especial ao seu estado clinico no dia-a-dia mesmo após a cirurgia e recuperação pois o chumbo tem características de se quelar com cálcio tornando mais difícil sua eliminação do organismo podendo causar sintomas neurológicos posteriormente.
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Sobre o Autor:
Claudir M. Freitas , Médico Veterinário Bacharel em Medicina Veterinária pela Universidade Anhembi Morumbi. Atuando como Veterinário na Clínica Veterinária Mundo Animal em Vargem Grande Paulista desde 2014. |